quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Tema 3 - Ritmo

Vidas que correm soltas

em velocidades diferentes.

às vezes ocorre um

encontro

a simultaneidade nas

batidas

é percebida por ambos os lados.


Sincronismo,

duas mentes se ligando por

um instante,

dois destinos se unindo.


Dizem que cada um tem seu ritmo,

às vezes

dois ritmos se tornam um.


É assim que acontece.

LUCIANO

Tema 3 - Ritmo

Erro ritmado

É amigo...

Quantas vezes eu errei...


Essas últimas palavras não saiam de minha pouca cabeça. Era uma desordem, uma desordem da desordem completa, uma desordem concreta. Qual um poema... Pudera fosse a vida como a poesia, as poesias... Onde, apesar do caos aparente, há métrica, há rimas ou não, pra variar uma rítmica, um ritmo, uma estética sonora, uma visão. A vida tem muito de poesia.

Banhei-me com água do fogão, a energia elétrica havia caído na região de meu bairro no meio de uma canção de Jimi Hendrix interpretada por Caetano e Gil, cujo nome não posso me recordar nesse instante pelo fato de nesse instante minha mente estar ocupada mazelas e enfermidades. O caso é que me banhei com água quente vinda do fogo de um fogão elétrico aceso por um palito de fósforo de uma caixinha aposentada pela evolução tecnológica. Mas primeira tecnologia não morre, suporta. Era manhã, por volta de onze ou doze horas, estava naquela hora em que não sabemos se usamos bom dia ou boa tarde. A força acabou no meio da canção e o meu medo era que ela não fosse restabelecida a tempo de assistir à partida do meu Corinthians pela TV. Não consegui ver nenhum dos três gols marcados no primeiro tempo, mas ela voltou. Como todas as coisas que parecem definitivas às sentenças de fim, ela voltou, e justamente quando do gol do Palmeiras. Vencemos por três a um, mas ela tinha que voltar no gol deles? Um frenesi tomou-me o corpo, um corpo sem paz como a mão que redige esse momento, um ritmo alucinado, um rock sambado.

Apanhei meu velho contrabaixo e o pandeiro dependurado em meu ombro esquerdo sem saber qual rara felicidade nos esperava. Um ensaio de rock com pandeiro? Como é possível? Com ritmo e música popular tudo é possível. Um pandeiro leve, abas de madeira e pele de carneiro. Novo! Precisava estreá-lo. Queria. Raros e benditos os roqueiros brasileiros que gostam de pandeiro, meus comparsas gostavam. Me pediram pra tocá-lo. Toquei mal. O que tocaria eu um iniciante na arte de pandeirar... Que tal um samba-rock? Gritou algum fulano baterista. Mas eu era só um aprendiz, um aprendiz sem mestre, era mestre de mim mesmo, um automestre. Como bateria um samba-rock naquele troço de bater? Tinha que ser naquela hora! Tinha que ser no gol do Palmeiras? Ta certo que vencemos, mas podia ser de zero! Ou a luz poderia ter demorado mais pra voltar e eu não veria o gol, seria melhor. Todavia vi. Tomar gol deles nunca é bom, mesmo que vencendo não é razoável um gol qualquer nos subtraindo o valor da vitória, sobretudo daqueles grandes rivais. Nessas escassas condições toquei o instrumento e assim me enraiveci com meus companheiros musicais. Sei que queriam somente uma batida nova, algo diferente, mas isso não vale minha vergonha. Desisti. Não toquei mais. Procuraria um professor na quadra da Unidos do Peruche.

Um dia depois em casa, coloquei muito sambas para rodarem na velha vitrola, era Noel, Cartola, Pixinguinha, Chico, Beth, Adoniram, Moreira, Zeca, etc. Depois foi a sessão forró-baião com Gongão encabeçando a fila que vinha acompanhada por Dominguinhos, Jackson, Alceu e Zé. Até na bossa me aventurei, em minha cabeça os ritmos eram muitos em uma única coisa. Assim dia passou, como na desordem de um poema concreto, um caos sonoro em minha mente produzia ritmos variados e sem sentidos comuns. Estéticos como a lágrima no riso ou o riso nos nervos.

Mais tarde percebi que todos aqueles ruídos eram apenas sombra do ritmo, pelos seus vários trejeitos e caminhos distintos assim me provaram. Nenhuma maneira se igualava ao gingado sutil de minha pequena. Beijamo-nos e nos amamos na melodia sutil de Miles, nosso canto tratamos de criar na riqueza do improviso, caiam gotas, raras águas, enquanto os braços se enforcavam para que a gravidade não fizesse com que o corpo pesasse o que pesa para a terra. Era claro, era escuro, um lindo tango deslizava, na mente o pandeiro batucava à preparar a cama para as cordas e os dedos tocarem as linhas do pentagrama, o sopro surgia como que pra dizer o indizível das indivisibilidades do verbo e dos gametas. Ao final um canto fora do ouvido finalizando o que pudera ser senil tristeza, farta beleza alegre. O que finda, finda sem julgamento de valor, e nessa pausa é reconhecido o ideal do que seria uma pretensa vida. Mas as energias se renovam no corpo ou na rede elétrica ou na cana-de-açúcar ou no ritmo da percussão, ela, como a história, é cíclica. Eis a alquimia.

Dessa vez saí decidido.

Toquei pandeiro. Parei.


- O que houve?

- Não sei.

- De novo então! 1 e 2 e...


Errei.


E foi uma sucessão de desencontros musicais, tentamos que a guitarra virasse cuíca, Que absurdo! Que idéia! Tentamos inversões e outras invenções. Nada saiu. Mas garantimos a diversão. Um caos alegre, um mundo cão em horário nobre, nada fora da pauta editorial, como um virgem e uma puta, o cu do cu de quem regurgita regras, Que maravilha o caos! Afinal como era antes do Big Ben? Com a ordem as coisas não pioraram? Só a música. A única boa cria da ordenação, somente ela.


Já no botequim, após onze ou doze cervejas, melancólicos e vagarosos e divertidos como um blues em si menor.


- Que som foi aquele?

- O princípio do universo, respondi.

- Quase enlouqueço.

- Eu ensandeci, desce outra garçom!

- E aquela batida? Não vá esquecê-la heim!

- A do churrasco?

- Do ensaio...

- Era um “baisamba”, baião com samba.

- E eu mandando um rock!

- Pois é. Brasil.

- Por isso estava fora do compasso.

- Faz parte da experiência, “C’est la vi”. Nada há de certeza a não ser o que se experimenta ou o que transcende. Eles são mais certos que a certeza da morte.

- E a morte é certa?

- Só morrendo...

- É amigo... Quantas vezes eu errei...


As portas de aço do bar começaram a ser baixadas, disseram que acabara a original, sem petiscos, o show de B.B. King que passava no vídeo foi desligado. Que bom! Amanheci sorrindo sabendo que tinha errado.





RODRIGO H.

domingo, 23 de novembro de 2008

Bônus 3

Verdades dobradas

Poucas verdades são tão
verdadeiras
quanto as no fundo de um copo de whisky.

A lucidez via embriaguez.

Nada melhor que enxergar
dobrado,
para enxergar melhor
e bater de frente
com os problemas.

O copo de whisky não mente para você,
e nem te faz esquecer,
como o de tequila.

Cada bebida possui
uma função na vida.

A do whisky é mostrar
a verdade no fundo do copo.


LUCIANO

Bônus 2

Insubordinação mental

Assim que jogado o pão, minha mão foi pega por uma outra maior, não sei porque, pois o cão se deliciava com aquele cachorro quente que para mim estava demasiado azedo, havia até algumas tonalidades de verde naquela salsicha, acredito que era um aproveitamento do dia anterior, questões econômicas provavelmente. A mão estava fria, os olhos raivosos por trás daquelas lentes “fundo de garrafa”, seus curtos cabelos quase que se arrepiaram com meu ato inocente de alimentar um cão de uma singela casa contígua á escola, que problema haveria nisso? A raiva encrudesceu seu olhar colérico, que pecado era aquele de alimentar cão? Será que o se fosse outro animal o ódio seria menor. Em casa cristã cão se chama cachorro, essa palavra pronunciada pode ser pecada inquisitório. Pois alimentei um cão, não O Cão, sim um cão. Aquelas gélidas mãos apertara-me os braços e aos sussurros intradentários ela me disse.
- O que vc está fazendo moleque?
Não soube responder-lhe, um arrepio me subiu à espinha chegando à nuca, bateu em cima refletiu embaixo. Não pude ir ao banheiro, segurei. Aquelas pupilas dilatadas me fizeram temer pela vida, tentei justificar, argumentar, falar... Não pude. Falar nessas condições é quase uma flatulência a quem manda ouvir. A freira bedel encaminhou-me à sala da coordenadoria onde fui despido de todo tipo de orgulho, a bexiga inflou-se, novamente segurei, fui acusado pelo beato de insubordinação mental, pensei: que grave importância teria eu para tal acusação incompreensível? A acusação estendeu-se para assuntos já arquivados pela minha memória pré adolescente, desordens articuladas em sala de aula, cuja finalidades única era a perturbação do mestre, traquinagens com bíblias e santinhos espalhados pelo purgatório onde das freiras nos faziam rezar, cruzes de ponta cabeça. Coisas feitas por fazer, onde não havia um único autor, mas minha reles pessoa inspirava essas aversões sacerdotais, talvez pensassem que eu era budista ou comunista, talvez eu seria um exemplo, um bode expiatório, e tudo por causa de um pão e um cão. Adorava dizer cão para aqueles seres.
Nada mais incisivo aconteceu, mamãe teve de assinar uma carta de advertência, papai me bateu, mas aquilo já era rotina, acostumei-me, alçar vôo à minha defesa já estava no campo da metafísica, calei. Assumi o pecado. Rezei cem vezes o padre e mais cem aves Maria, o Salve rainha eu não sabia apesar da sentença paroquial, menti às irmãs do colégio que rezei, mas a minha dívida pra mim estava paga, deus não me cobrou um centavo. Mentir é tão necessário quanto a verdade em dias de chuva. Menti, mas nunca mais alimentei cães, só o cão, pois de nada resolveram as rezas. Ainda hoje me pergunto: qual o mal em alimentar o cão? Não alimento mais. Desalimentei a fé. Matei o cão. Em mim ficou o saber da pobreza da alma (alma?) humana. A pobreza dos olhos coléricos por uma certeza, a pobreza da humilhação, a falta de carinho consigo, a cegueira além dos óculos que faz enxergar o que quer ser enxergado. Uma tristeza só, no concernente ao espírito ou á falta de tal. Uma realidade compreendida a partir do entendimento e a sublimação da banalidade. Sublime arte, sublime parte de nós, aos que fazem aos que recebem. Jesus não me viu rezar, mas rezei, rezei com todo ódio que meu coração guardara daquelas frias mãos a me apertarem, de ódio das figuras desfiguradas que tardavam a morrer, que matavam a beleza juvenil em detrimento à rudeza senil daquelas velhas cruzes que faziam arquejar os pescoços daquele pequeno poder cristão. Amém ao papa.
Minha expulsão do colégio foi justificada por insubordinação mental, o que eu nunca entendi. Agora a ovelha pasta à distância, insubordinadamente pensa em como fazer e o que deveria pensar antes de alimentarem seu cão interior.



RODRIGO H.

Tema 2 - População

branco,
negro,
amarelo,
vermelho.
a cor não importa,
cada qual com sua cruz,
cada qual com seu próprio eu
na multidão, todos parecem apenas
um
as individualidades
somem
se olharmos como um todo,
mas não,
cada qual com sua história,
cada qual com seu destino,
cada mente,
cada coração,
a serviço de sonhos próprios,
sonhos sonhados na solidão
e esquecidos no meio dos
outros.


LUCIANO

Tema 2 - População

Mais do mesmo


As ruas não eram bastante para aquilo tudo, retas e curvas, mas não o bastante. A população se aglomerava e, assim como a rua, a polícia não era suficiente, apesar disso o mercado exercia seu controle. O céu estava cinzento, as nuvens baixas, ameaça de chuva, mas não havia pausa, a comida era fast food, a alimentação um detalhe, os carros que optavam passar por ali não passavam, a rua era do povo, e quando o povo sai às ruas não há governo que se sustente, a não ser o comércio. Numa rua contígua dois senhores sentados num banco contrastam com aquela agitação, seus pombos os rodeavam, o milho já não era suficiente.
- Há anos damos milhos a esses pombos. Já conheço cada um e quando um qualquer morre me entristeço.
- É verdade, nos afeiçoamos aos animais e às coisas. As coisas são sábias, sabia? Quando eu tinha vinte e dois anos dava valor às coisas, valor material, valor monetário, mas não sabia direito sobre a importância delas.
- Achamos valor nas pessoas, amigos, filhos, pais, netos e até nos nossos pombos companheiros de velhice, mas nas coisas... Só atribuímos valor material. Onde há sabedoria nas coisas?
- Sobretudo após a revolução industrial as coisas guiam o ser humano mais que o próprio humano. Veja o exemplo do automóvel! Você guia seu dinheiro para a poupança para poder adquirir um carro, meses e meses suas moedas são guardadas para tal finalidade, quando o dinheiro é suficiente você o compra. Ao comprá-lo pensa que vai se sentir mais livre, mas quando vai ver ele te guia novamente. Guia ao mecânico, ao posto de gasolina, à farmácia, e quando percebe ele está velho e há um novo lançamento te instigando na vitrine ou na propaganda.
- Isso sem falar nessas novas parafernálias eletrônicas!
- Pois é, olhe seus netos.





Muito lucro, os vendedores trabalham sem parar, dia e noite, de galo a galo muitos se tornavam corujas, mas não havia jeito a vida é assim, sem trabalho nada feito. E deveriam aproveitar o momento, pois é no fim do ano que as vendas são alavancadas, é quando se ganha mais dinheiro.
O tumulto na porta das lojas era perturbador, mal os lojistas pensaram em acordar e os consumidores já penavam em consumir, aproveitar as ofertas era fundamental para boas festas, valia à pena o sacrifício, presentes e comemorações não são todo dia. Dinheiro? Dá-se um jeito. As lojas facilitam o pagamento através de carnês, cartões, boletos..., o que não pode é faltarem festa e presente, e pra que isso aconteça é necessário um pouco de sacrifício.
Àquele volume de pessoas os velhos não davam atenção, estavam acostumados aos transeuntes da zona central da cidade, olhavam aos pombos e faziam uma analogia. A diferença é que os pombos agiam com o estômago.

- Qual a diferença mesmo?
- Não sei mais.
- Nem sexo mais?
- Acho que não.
- Quando jovem adorávamos sexo.
- Porque quando jovem? Não gosta mais?
- Gosto, mas sou viúvo esqueceu?
- Ah é. Mas qual o problema? A cidade está cheia de bailes de terceira idade?
- Mas não sobe mais.
- E o viagra?
- Tenho medo de tomar essas novas drogas.
- Mas você fuma há quarenta e seis anos!
- E daí?
- Você tem medo de morrer agora? Depois de velho? Na velhice morrer é conseqüência, devia ter pensado nisso quando tragou seu primeiro fumo.
- Mas o primeiro foi de maconha.
- To falando de cigarro, nicotina.
- Ah, tenho culpa? Queria ser como o cowboy da propaganda. Lembro-me até do slogan “Venha para o mundo de marlboro!”.
- E foi mesmo. Agora ta com medo de tomar um remedinho bobo, será só mais um na lista. Há quanto tempo que você não vê seu pau subir?
Um pombo pousa no banco e vem comer na mão de um dos velhos. Ele o espanta.
- Porque fez isso?
- Se não fizer ele acostuma, e se acostumar os outros também vão querer que lhes dê milho na mão.

Uma das lojas não abrira, alegou falta de produto. A população em fúria forçava a porta de metal. Gritos eram ouvidos, gritos de protesto, de xingamentos, palavrões, e uma infinidade de elegâncias se ouviam nos arredores, a polícia foi chamada. Houve quebra-quebra, os camelôs aproveitaram para destruírem alguns estabelecimentos, muitos foram detidos, outros presos, Qual a diferença de preso e detido? É que um aceita o outro não. E na escalada de violência o confronto chegou cerca do banco dos senhores e dos pombos.
“No congresso foi aprovada a lei que limita a carga horária semanal para estudantes dos primeiro e segundo graus da rede pública. O que antes era de 25hs semanais agora passará para 20hs semanais, com a não obrigatoriedade do ensino das disciplinas de filosofia e história...” Informava o radinho de pilha velho de um dos velhos.
- Que negócio é esse? No nosso tempo a gente estudava cinqüenta horas por dia! Não por semana! Por isso que tem um monte de analfabeto por aí.
- E as lojas continuam lotadas... E as ruas? Olhe essas ruas? Essa gente?
- É o que o povo quer, só isso. Por isso prefiro os pombos. Por isso prefiro meu cigarro. Por isso não vou comprar merda nenhuma de viagra!
- Vai continuar de pau mole?
- Vou.
- Mas só por causa disso? Olha tem uma senhora que eu conheço...
- Não quero!
- Então o que quer? Morrer de vez?
- Porque não?
- Porque sim?
- Olha o pombo aí. Espanta ele!
- Xô! Xô!
- Vou levar meus pombos pra um lugar mais calmo.
- Vamos!
- E nem me fale em senhoras! Deixe-me cá com meus pombos.
- Assunto encerrado.

Aquela gente acordava sempre, sempre que pensava estar acordada. Cada vez mais comprando o necessário, cada vez mais desculpas, mil delas para irem às compras, cada vez mais e mais... menos indignação.
RODRIGO H.

Bônus 1

- Tem dez centavos?
Após vasculhar sua carteira.
- Não.
Sua sentença lhe traria uma proporção indefinida, a balconista sacara um punhado de moedas, centavos a perderem de vista, lhe entregando uma irrisória quantia cuja importância era concedida de acordo com a índole dos autores do ato, a dele valia mais que a breve quantia em suas mãos. Preferiu não fazer a contabilidade instantânea, confiara na pobre diaba mesmo desconfiando do seu poder de cálculo. O café estava quente como o verão daquele dia de fevereiro. Porque tomar bebida tão quente num dia daqueles? Era a pergunta mais estranha que se podia indagar.
Guardados os devidos centavos levou o copo de café consigo no trem, não tinha o privilégio de sentar-se à mesa para degustar sua bebida predileta, sua mão segurava firme o líquido, aquela fervura não a agredia, estava acostumado e era tudo proporcional, tudo se encaixava perfeitamente, a mão, o copo, calor, o líquido, o dia, menos o trem, era muito pequeno pra tanta gente, noves fora tudo estava em sua ordem, natural? Não sabia mais ao certo sua natureza, nem de onde vinha, só necessitava chegar brevemente, o mundo não espera os caprichos humanos, os caprichos moldam o mundo.
Logo pela manhã muitas pessoas, demasiada movimentação, essa era a rotina desde a estação primeira à vindoura. Do destino à origem os contrários se encontravam a cada parada, a cada abertura de porta, a cada vagão preenchido uma nova cara ainda que não muito cara ao olhar. Ao longo do dia novas e velhas formas humanas cruzariam seu caminho. Outro café, mais e outras moedas, outras palavras, o mesmo sentido, outros sentidos, sons, visões de uma visão de mundo, palavras mesmas, mesmos prazeres, torturas... O dia passa. Passou...
O trem chegou novamente, a repetição se repete com o retorno se confundido com a ida. Não se sabe ao certo do que se trata o que ele quer tratar de ser. O que mais? Uma sobrevida como a de Joseph K. seria como deus um tratante, um falso sacerdote, real humanidade. De Maomé à Brahma havia crido em muitas divindades, as desavenças da rotina fizeram-no olhar para as espécies como pura evolução, mas agora, depois daquelas moedas todas desacreditou de Darwin. Pensou em suicídio. Recuou. Pensou em castração. Doeria. Tatuou as costas. O quê não importa. Tatuou. E tatuou algo significativo pra ele. Ninguém precisa entender. Mas seu café vai esfriar e o trem parou na plataforma, é preciso correr, a porta se abriu, a aglomeração se formou, a porta vai fechar, correu, fechou-se a porta. Nem Brahma nem Darwin o destino está no comando.


RODRIGO H.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Tema 1 - Amizade

Amigos...

Amigos na vida,
amigos na morte,
amigos no auge,
amigos no fundo do poço.

Amigos de verdade,
amigos de ocasião,
amigos de copo...
ah... os amigos de copo...
estes os que mais ouvem lamentos e alegrias,
os únicos que conhecem toda a verdade,
mas não se lembram.

Amigos que te procuram,
amigos que você esbarra,
amigos que aparecem sem avisar,
amigos que avisam e nunca aparecem,
amigos de longe sempre presentes,
amigos de perto por tanto ausentes.

Amigos que são,
amigos que serão,
amigos que querem ser,
amigos que nunca serão,
amigos.


LUCIANO