sábado, 14 de fevereiro de 2009

Tema 11 - Todas as graças

O Crepúsculo Dourado

O silencioso vento ressoa em seus ouvidos, contra sua pele, um gélido vento de fim de tarde contrastando com o aroma de fogo e destruição que ele traz.
Em 2525, o jovem monge Yu Ti é tudo que existe entre a milenar dinastia da Cidade Dourada de Khun Lun e sua iminente destruição.
Ele se posiciona ameaçador e impassível por entre o caminho ornado de corpos e maquinas, desfalecidos em batalha, carregando consigo apenas seus punhos cerrados e eras de conhecimento e segredos que o favorecem em batalha frente às hordas invasoras.
Sua honra, implacável como sua determinação, é o que o difere dos seus oponentes. Ou pelo menos, assim é como ele acredita. Frente ao caminho do embate, não haverá escapatória, não haverá perdão. Tudo há de terminar esta noite, e Yu Ti, no âmago de seu coração sabe, seu caminho há de se findar naquela mesma noite. Junto com sua Cidade Dourada, seu corpo há de se juntar aos demais corpos no caminho do avanço irrefreável do destino.
Com as cinzas de sua cidade, perecerá uma pequena nação de homens deuses devotos à consagração de suas almas imortais, frente a implacável resolução de um império opressor, jovem se comparado à sua dinastia, onde delírios de expansão impõem sua cultura homogeneizada em mentes livres.
Yu Ti contempla seu destino ao ver as monumentais bases flutuantes, maquinas aladas e totens de guerra que remetem aos titãs da mitologia. Ele esboça um sorriso, pois sabe que sua morte será grandiosa, digna de sua história, digno de seus antepassados, mesmo que não haja mais ninguém que siga seu legado, mesmo que sua história nunca seja contada.
Ele se lembra de sua infância na Cidade Dourada, lembra-se de correr por entre os templos e sentir o vento no rosto ao saltar das Cachoeiras Suspensas. Ele sente novamente o calor dos braços de sua mãe, o reconfortando quando seu pai se tornou mais uma das lendas tombadas em guerra. Os toque dos lábios macios do primeiro beijo de seu primeiro e eterno amor. O nascimento de seu primogênito, a promessa orgulhosa de participar na criação de um herdeiro a continuar a jornada de seu povo.
Em meio à memória de todas as glórias viveu, Yu Ti percebe como essa jornada, embora milenar, parece acabar cedo demais. Ainda assim, seu sorriso se aumenta e se mistura as lágrimas que escorrem em seu rosto. Lágrimas que determinam seu agradecimento por uma vida repleta de graças, memórias e prazeres que nenhum poder no universo poderia apagar.
Frente à obliteração, Yu Ti e sua Cidade Dourada persistem. Sim, eles serão destruídos e desfeitos.
Suas almas porém, jamais serão domadas.

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