quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Tema 21 - Morte

Nascimento e morte

“Morrer deve ser tão frio como na hora do parto/ O melhor lugar do mundo é aqui e
agora” (Gilberto Gil).

Dizem que a esperança e o otimismo são para fracos, tal qual a compaixão para Nietzsche, no que sempre concordei. Quem morre, morre. Morrer, verbo intransitivo.
Pensando nisso e nas bobagens da rotina da vida, à luz da canção de Gil, fui para os braços de Morpheus. A noite não passava, o sono teimava em não chegar e a vida persistia em permanecer viva. Sempre pensei em suicídio, mas não me tomem por covarde ou herói, meu pensamento é fruto de reles curiosidade científica acerca do devir da morte. Talvez para religiosos de qualquer estirpe matar-se deve ser mais fácil e acolhedor, o que justificaria tamanha ojeriza pelo ato, a coisa em si ofusca. Acho por isso pensei em me matar, influenciado por Immanuel e sua tamanha subjetividade para esclarecer o que seria “a coisa em si”. Nunca entendi a questão, nunca me souberam ou a outrem explicar. Dizem que sabem, mas acredito que a teoria está longe do palpável, ou seja, a essência não deve estar aqui, daí a idéia de suicídio.

Matar-se é simples, Hollywood já demonstrou inúmeras vezes como fazê-lo, mas e morrer? O medo da dor supera a curiosidade?, o medo do fim, supera a experiência? De modo que repensei a morte e vi que o problema está no medo, o medo do findar. Pensei em pensar em Deus... quanta bobagem... é melhor dormir.

Acordei às dez e pouco com o cheiro do café, era domingo e o martírio da lida ficou esquecido no labirinto do inconsciente. O cheiro era bom, o café também, mas eu andava atordoado com as questões da madrugada. Tomei o café até o fim, comi biscoitos água e sal com margarina. Estava só no meu canto, nada de amigos ou mulheres a me visitarem nas últimas semana, meu violão calara-se desde a morte de meu cão... Ah morte... Conceito biológico, conceito filosófico, “conceito” religioso... Fiquei assistindo bobagens pela tela da TV e sempre a morte aparecia em minha frente. Mortes duras, escandalosas, serenas, apaixonadas, a morte do amor... Morrer para o amor é se matar vivendo.

Liguei para Beth (se escrevia com H, pois seu nome era Elisabeth como o da rainha) e ela não estava, no meu coração havia morrido há tempos, mas liguei para Beth para me sentir vivo, afinal uma boa transa não mata ninguém e ainda faz suar. Mas ela não estava. No ápice da minha debilidade mental vesti minhas calças jeans e minhas sandálias havaianas para procurar abrigo fora de casa. O vazio das canções sertanejas se apoderou de mim, uma coisa horrível, uma náusea sem sentido, uma coisa pela coisa... Passou, era apenas o “videokê” de um boteco. Ufa! Por um instante pensei que morreria! É não quero morrer. Resolvi continuar a caminhada e deixando que só a morte me separe do amor que renasce em mim a cada boa canção que deixe de falar de amor, ou que fale dele pensando no quanto é boa uma metáfora. Deixe a vida correr com toda sua turvação, não quero o riso dos tolos, tampouco o acolhimento dos religiosos, dê-me a dor com toda sua clareza e perfeição de inerentes! Deixe-me cá com meu desaforo, pois desaforado estou e desse combustível só me mata o que é humano. A ironia é que o mesmo que mata faz viver. Ultimamente ando pensado demais nas contradições... Ah como são boas as canções!

Rodrigo

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