quinta-feira, 21 de maio de 2009

Tema 17 - Futebol



A coleção





Bem que meu pai tentou, mas não deu, não vi Pelé e Coutinho jogarem, meu coração nasceu bruto como o sertão da Paraíba, minha categoria já era de vira-lata. Meu irmão mais velho vira, mas parece que não gostou muito do comodismo de ver um único time ser campeão de tudo. Certa vez jogando futebol de botão eu estava com o time do Grêmio de Porto Alegre, àquela época os jogadores do sul já tinham fama pela raça aplicada em campo, escolhi o Grêmio por isso e pelo medo de ver meu time perder. Meu time era e sempre foi o glorioso Corinthians, como eu era muito ruim na arte do jogo de botão preferi outro time, mas apesar de toda a raça aplicada pelo lateral Alfinete eu perdi de meu irmão. Tenho certeza que ele me roubou, já que era mais velho que eu e meus socos jamais o feririam. Perdi. E segui perdendo. Até que um dia briguei para ser o Corinthians à época meu ídolo era o Doutor, o cara jogava mais com o calcanhar que com a chapa do pé, certa vez ele disse na TV que fazia isso porque não sabia jogar, aí se virava de costas para poupar seus olhos da vergonha de um passe errado. Falsa modéstia, o cara acertava todas, por isso Telê o levou pra copa do México, Ah aquele pênalti do Zico! Modéstia que seu irmão no futuro não herdaria jogando por um time pouco modesto criado às barbas da burguesia cafeeira paulistana. Não adiantou muito eu jogar com o Timão, apesar de Sócrates, Zenom, Casagrande, Wladimir e Cia. a democracia perderia para a experiência do Grêmio, dessa vez comandado por meu irmão.

Não joguei mais, nunca mais! Ele me chamava pra jogar, mas eu não ia. Quem mandou ele ganhar do Corinthians? Afinal ele não ganhara de mim, ganhara do Timão, tinha que deixar a bola entrar pelo menos por um empate, nem parecia que era corintiano como eu, aliás eu que era como ele, meu pai querendo que eu fosse santista sem ver o Pelé e meu irmão que eu fosse corintiano vendo o Sócrates, é claro que eu deixaria o alvinegro praiano para os peixes e ficaria pelas bandas do parque São Jorge.

Nos anos 90 vi o maestro gordo Neto jogar, vi como ele bateu uma falta indefensável da intermediária contra o gol do pobre Santa Cruz num Pacaembu lotado em dia de frio. O resultado foi 3 x 1 e o Coringão seguia firme em busca do nosso primeiro campeonato nacional. A década de 90 viu também um carioca virar rei pelos lados do Tatuapé, ele fez com que eu voltasse a jogar botão, mas dessa vez ganhando de meu irmão. Fiz coleção de jogos de botão, achei até o América de MG vejam vocês! Uma coleção ímpar que obviamente deixou o Palestra Itália de fora, pois ninguém jogaria com o arqui-rival, e se jogasse claro deixaria a bola passar, tomaria alguns frangos e etc.



Minha coleção durou até o ano de 2006, quando da derrota para o River Plate em plenas luzes do Pacaembu pela taça Libertadores da América. No dia seguinte joguei a coleção toda de cima da ponte da Casa Verde deixando-a navegando sobre as águas do Tietê, era uma promessa que tinha feito à Virgem, pois ela me traiu, perdemos a libertadores, perdi minha coleção, o Timão perdeu e minha fé foi junto com a coleção, pelas águas bostadas do Tietê.

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